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Artigo 115 do Código Penal: redução de prazos de prescrição

O ordenamento jurídico brasileiro é uma rede intrincada de dispositivos legais, cada qual com sua relevância e impacto específicos. Dentre esses, o art 115 CP destaca-se como um elemento fundamental no sistema de prescrição penal.

Neste artigo, mergulhamos nas profundezas do artigo 115, explorando minuciosamente sua natureza, princípios, implicações e exemplos práticos.

O que diz o artigo 115 do Código Penal?

A prescrição penal, embora seja comumente associada à passagem do tempo, vai muito além desse conceito superficial. Ou seja, ela atua como um limitador temporal, estabelecendo um prazo após o qual o Estado perde o direito de punir o infrator.

Dessa forma, o art. 115 CP Brasileiro exerce uma função crucial nesse cenário, focando na redução dos prazos de prescrição, uma ação estrategicamente moldada para manter a eficácia do sistema de justiça criminal.

Desse modo, vejamos o que consagra o art. 115 CP:

São reduzidos de metade os prazos da prescrição, quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de vinte e um ou maior de setenta anos.

1. As engrenagens do artigo 115: uma análise detalhada

  1. Idade relevante: a redução do prazo se aplica quando o criminoso tinha menos de 21 anos ou mais de 70 anos na data do crime;
  2. Critérios objetivos: a art. 115 CP é baseado em critérios objetivos, levando em conta a idade no momento da infração;
  3. Aplicação proporcional: a metade dos prazos é aplicada proporcionalmente, não importando a pena original.

2. Finalidade do Artigo

O objetivo primordial do artigo 115 é balancear a preservação da justiça com o reconhecimento da finitude temporal em detrimento da idade. 

Assim, um dos pontos de relevância ao discutir o art. 115 CP é sua conexão direta com a noção de culpabilidade do infrator. Isto é, a idade, nesse contexto, é vista como um fator que pode influenciar a capacidade de discernimento, maturidade e responsabilidade do indivíduo no momento da infração.

Ademais, a legislação reconhece que jovens e idosos podem ter uma compreensão diferente das consequências de seus atos, o que impacta a avaliação da culpa e, por extensão, a punição adequada.

Portanto, a redução dos prazos prescricionais pela metade, baseada na idade, reflete uma abordagem sensível e equitativa para lidar com infratores que podem não ter tido um entendimento pleno das ramificações de seus atos.

3. Desdobramentos Processuais:

Além disso, a aplicação do artigo 115 também tem implicações práticas nos processos judiciais e na administração da justiça como um todo.

A redução dos prazos prescricionais pela metade pode influenciar a duração dos processos, bem como as estratégias adotadas pelas partes envolvidas. Portanto, a defesa e a acusação podem considerar essas nuances temporais ao planejar suas ações e argumentações.

Além disso, os tribunais devem levar em conta a aplicação adequada do artigo 115 ao determinar a prescrição em casos envolvendo jovens ou idosos.

A compreensão do artigo 115 e sua interpretação correta são fundamentais para garantir que a justiça seja administrada de maneira eficaz e de acordo com os princípios estabelecidos.

4. A evolução histórica do artigo 115: um olhar no retrovisor

A compreensão completa do artigo 115 do Código Penal Brasileiro requer um mergulho nas páginas da história jurídica do país.

Afinal, desde sua incorporação no Código Penal de 1940, o dispositivo passou por transformações significativas, moldadas por mudanças sociais, percepções da justiça e desenvolvimento do sistema penal.

A princípio, o dispositivo tratava apenas da redução do prazo prescricional para menores de 21 anos no momento do crime. No entanto, a Lei nº 7.209/1984 trouxe a inclusão dos maiores de 70 anos, reconhecendo que a idade avançada também poderia influenciar a aplicação justa da lei.

Ademais, essa evolução reflete a constante adaptação do sistema legal às nuances da sociedade. Em outras palavras, o reconhecimento de que a idade é um fator crucial na avaliação da culpabilidade e da punição demonstra a sensibilidade do legislador para a complexidade humana e as diferentes fases da vida.

5. Perspectiva atual: o contexto e o futuro do artigo 115

O artigo 115, em sua forma atual, lança luz sobre a preocupação do sistema jurídico em equilibrar a justiça com a compreensão das circunstâncias individuais dos infratores.

Assim, a avaliação objetiva da idade como critério de redução dos prazos prescricionais é um lembrete constante de que a justiça não pode ser cega para os fatores humanos que moldam o comportamento e as escolhas.

No entanto, é importante considerar que o sistema legal está sempre em fluxo. O avanço da sociedade, a evolução do entendimento jurídico e as demandas da comunidade podem, eventualmente, levar a revisões ou reinterpretações do artigo 115.

Contudo, esse dispositivo, como muitos outros, está sujeito a mudanças que buscam melhor refletir os valores e a realidade da época.

Quais são os princípios jurídicos do Artigo 115?

Confira a seguir os princípios jurídicos que norteiam o Artigo 115 do Código Penal!

  • Princípio da legalidade;
  • Princípio da individualização da pena;
  • Princípio da proporcionalidade;
  • O respeito à dignidade humana.

1. Princípio da legalidade: limites e fundamentação da atuação estatal

O princípio da legalidade é uma coluna mestra do direito penal, afirmando que ninguém será penalizado senão em virtude de uma lei preexistente que defina claramente o comportamento delitivo e a pena correspondente. Dessa maneira, o artigo 115 é um exemplo concreto da aplicação desse princípio.

Considerando que a redução dos prazos prescricionais não ocorre de maneira arbitrária ou subjetiva; ela é regida por critérios objetivos e claramente estabelecidos.

A idade do infrator, no momento do crime, é um critério mensurável e predefinido pela lei. Portanto, a aplicação do artigo 115 respeita os limites impostos pelo princípio da legalidade, garantindo que a intervenção estatal seja ancorada em bases legais sólidas.

2. Princípio da individualização da pena: reconhecendo a singularidade do infrator

A individualização da pena é um princípio que reconhece a singularidade de cada infrator e busca aplicar a punição de maneira justa e equitativa, considerando as características pessoais e as circunstâncias do crime.

O artigo 115 se alinha a esse princípio ao reduzir os prazos prescricionais com base na idade do criminoso.

Ao considerar a idade como um fator relevante, o sistema penal reconhece que as características pessoais do infrator, influenciadas pela fase da vida, podem afetar sua culpabilidade.

Essa abordagem fortalece a noção de que a pena deve ser moldada para se adequar à pessoa que a recebe, em vez de uma abordagem uniforme e rígida que não leve em conta as particularidades individuais.

3. Princípio da proporcionalidade: a relação direta com a culpa e a punição

A proporcionalidade é um princípio fundamental que exige que a pena seja proporcional à gravidade do crime e à culpabilidade do infrator. O artigo 115 se destaca como um exemplo direto desse princípio, ao ajustar os prazos prescricionais com base na idade do criminoso.

A conexão entre idade e culpabilidade é crucial aqui. A proporcionalidade é alcançada ao garantir que jovens e idosos não enfrentem uma punição que seja desproporcional ao estágio de vida no qual cometeram o delito.

Dessa forma, o artigo 115 atua como uma implementação prática do princípio da proporcionalidade, promovendo uma justiça que considera os contornos individuais de cada caso.

4. O respeito à dignidade humana

A natureza jurídica do artigo 115 é profundamente enraizada na busca pela justiça equitativa e na consideração da dignidade humana.

Ao abordar a idade como um critério para a redução dos prazos prescricionais, o sistema penal reconhece a complexidade das escolhas humanas em diferentes estágios da vida.

Dessa forma, essa abordagem também reflete o compromisso do sistema jurídico em promover uma justiça que respeita a dignidade de cada indivíduo.

A avaliação objetiva da idade e a redução dos prazos prescricionais são expressões tangíveis desse respeito pela individualidade e pelo valor intrínseco de cada ser humano.

5. Exemplos concretos: como o artigo 115 opera na prática

  1. Caso A – menor de 21 anos: suponhamos que um indivíduo com 18 anos comete um crime sujeito a 10 anos de pena máxima. Com base no artigo 115, os prazos de prescrição são reduzidos à metade;
  2. Caso B – maior de 70 anos:  se um indivíduo com 75 anos comete um crime passível de 8 anos de prisão, novamente o artigo 115 entra em ação, reduzindo os prazos prescricionais.

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Autor
Foto - Eduardo Koetz
Eduardo Koetz

Eduardo Koetz é advogado, escritor, sócio e fundador da Koetz Advocacia e CEO da empresa de software jurídico Advbox.

Possui bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Possui tanto registros na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB (OAB/SC 42.934, OAB/RS 73.409, OAB/PR 72.951, OAB/SP 435.266, OAB/MG 204.531, OAB/MG 204.531), como na Ordem dos Advogados de Portugal - OA ( OA/Portugal 69.512L).
É pós-graduado em Direito do Trabalho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011- 2012) e em Direito Tributário pela Escola Superior da Magistratura Federal ESMAFE (2013 - 2014).

Atua como um dos principais gestores da Koetz Advocacia realizando a supervisão e liderança em todos os setores do escritório. Em 2021, Eduardo publicou o livro intitulado: Otimizado - O escritório como empresa escalável pela editora Viseu.