vale a pena entrar com um processo
Gestão na advocacia

Vale a pena entrar com um processo? Saiba os impactos

A decisão de entrar com um processo judicial pode parecer a solução mais adequada em situações de conflito, mas será que sempre vale a pena entrar com um processo, considerando os custos, a demora e o desgaste emocional? 

Antes de recorrer ao Poder Judiciário, é necessário entender os desafios, os custos envolvidos e as alternativas disponíveis. Neste artigo, entenda se vale a pena iniciar uma ação judicial e quais são os fatores críticos que devem ser considerados.


Vale a pena entrar com um processo?

É necessário compreender que vale a pena entrar com um processo apenas se, após uma análise cuidadosa, os benefícios forem claramente superiores aos custos e ao desgaste. Muitas pessoas acreditam que, ao mover uma ação judicial, estarão exercendo seu direito e certamente terão algum ganho, mas a realidade não é tão simples.

A decisão de mover uma ação precisa ser baseada em uma análise racional e detalhada dos prós e contras. Ou seja, analisar os custos, os riscos e a chance real de vitória.

Em outras palavras, entrar na justiça envolve mais do que apenas a vontade de fazer valer um direito. Há custos processuais, honorários advocatícios, tempo que será despendido e o fator emocional que deve ser considerado.

Além disso, a incerteza do resultado é algo com que todos os envolvidos precisam lidar. Por isso, antes de tomar qualquer atitude, é essencial ponderar cada um desses elementos.

A seguir, detalharemos alguns dos principais pontos que influenciam a decisão de mover uma ação judicial.

Decisão de entrar na justiça

A decisão de entrar com um processo deve ser tomada de maneira cuidadosa, considerando todos os custos e possíveis retornos.

Segundo a teoria econômica das escolhas racionais, uma pessoa ou empresa deve tomar decisões visando aumentar os benefícios e diminuir os custos. Portanto, se o valor que se espera recuperar em um processo é inferior ao custo total para movê-lo, não vale a pena entrar com a ação.

Além dos custos diretos, como as taxas judiciais e os honorários dos advogados, é preciso contabilizar o tempo e a energia despendidos. Em muitos casos, as pessoas subestimam o impacto emocional que um processo judicial pode ter, bem como o desgaste que o longo período de espera para uma decisão definitiva pode causar.

Outro ponto importante é a chance de vitória. Não basta ter um direito lesado; é necessário existirem provas suficientes e argumentos jurídicos sólidos para se ter uma chance razoável de sucesso.

No Brasil, o princípio do livre convencimento do juiz, que veremos adiante, acrescenta uma camada de incerteza, já que o resultado depende, em parte, da interpretação individual de cada magistrado.

Não entrar na justiça

Decidir não entrar com um processo pode ser a melhor alternativa em muitas situações.  Geralmente, essa decisão é baseada em quatro fatores principais:

  1. Demora do processo: um processo judicial pode se arrastar por anos, causando frustração e ansiedade para as partes envolvidas. Isso ocorre principalmente devido ao acúmulo de ações no sistema judiciário.
  2. Custos do processo: custos como taxas judiciais e honorários advocatícios podem ser altos. Muitas vezes, mesmo que a pessoa tenha razão, os custos para mover e manter a ação não justificam o valor a ser recuperado.
  3. Honorários do advogado: em geral, os advogados cobram uma porcentagem do valor da causa como honorários. Além disso, caso a ação seja perdida, o autor ainda pode ser condenado a pagar os honorários do advogado da outra parte.
  4. Risco de perder a ação: todo processo judicial é uma incógnita. Mesmo com boas chances de vitória, existem riscos consideráveis de perder.

Portanto, vale a pena entrar com um processo apenas se, ao analisar todos esses aspectos, os benefícios superarem claramente os custos. Caso contrário, a alternativa pode ser a busca de uma solução extrajudicial ou até mesmo considerar não prosseguir com a disputa.

Princípio do livre convencimento do Juiz

No Brasil, o princípio do livre convencimento do juiz é um fator importante a ser considerado ao decidir entrar com um processo.

Este princípio concede ao juiz a liberdade de formar sua convicção com base nas provas apresentadas, sem estar vinculado a um conjunto específico de normas para avaliação das evidências. Em outras palavras, o juiz pode interpretar os fatos e as provas como achar mais adequado.

Esse princípio, embora assegure uma maior liberdade ao juiz para decidir de acordo com as particularidades de cada caso, também introduz um elemento de incerteza. As partes envolvidas em um processo não podem prever com exatidão como o juiz irá interpretar as provas, contribuindo para a imprevisibilidade das decisões judiciais.

Muitos advogados utilizam este princípio para tentar ampliar o valor da causa, mesmo que as chances de sucesso sejam mínimas. O cliente, movido pelo desejo de fazer justiça e recuperar um valor superior, muitas vezes é convencido a prosseguir com a ação, aumentando seus riscos.

Otimismo nas demandas

O otimismo exacerbado é uma das principais razões pelas quais muitas pessoas decidem entrar com um processo. Estudos acadêmicos mostram que as partes envolvidas frequentemente têm uma visão otimista e acreditam que suas chances de ganhar são maiores do que realmente são.

Isso é particularmente problemático porque, com base nesse otimismo, decisões irracionais são tomadas.

Para entender melhor esse comportamento, podemos utilizar a fórmula de Análise Racional da Litigância:

Valor esperado da demanda (VED) = Valor envolvido (B) x Chance de vitória (V) – Custos sociais do processo (CS)

Assim, a fórmula fica:

VED = (B x V) – CS

O otimismo muitas vezes leva as pessoas a superestimar a chance de vitória (V), resultando em um valor esperado da demanda (VED) positivo, mesmo quando os custos sociais (CS) são elevados. 

Dessa forma, a análise racional que deveria considerar os custos e as reais chances de sucesso acaba distorcida, motivando as partes a prosseguir com um litígio que, na prática, não é vantajoso.

Por isso, uma avaliação objetiva e realista dos fatores envolvidos é crucial para determinar se vale a pena entrar com um processo.

Além disso, o otimismo tende a ser alimentado pela percepção de que sua versão dos fatos é mais correta e justa do que a apresentada pela outra parte. Isso pode levar a um impasse, dificultando acordos extrajudiciais e prolongando desnecessariamente o litígio.

Influência do advogado

Um advogado experiente pode ajudar a definir se a ação faz sentido do ponto de vista financeiro, considerando as chances reais de sucesso. Entretanto, é importante lembrar que os interesses do advogado também estão em jogo.

Advogados podem ampliar ou reduzir o valor da causa com base em seus fundamentos e na maneira como interpretam as leis e as decisões judiciais anteriores. No entanto, como essas informações não são facilmente acessíveis ou organizadas de maneira clara, o advogado acaba se baseando em sua própria experiência e julgamento.

Outro ponto importante é que advogados recebem honorários baseados no sucesso do processo, o que pode influenciar sua motivação. Quando o valor a ser ganho não compensa o trabalho e os custos envolvidos, muitos escritórios simplesmente não têm interesse em prosseguir.

Isso explica por que advogados iniciantes costumam ser mais motivados a aceitar casos menores, enquanto escritórios maiores e mais estabelecidos preferem focar em ações de maior valor.

Solução extrajudicial

Uma alternativa cada vez mais considerada à opção de entrar com um processo é buscar uma solução extrajudicial para resolver o conflito. A mediação e a conciliação são métodos que buscam resolver disputas sem a necessidade de um julgamento formal.

A principal vantagem da solução extrajudicial é que ela tende a ser mais rápida e menos onerosa do que o processo judicial.

Além disso, acordos feitos em cartório possuem validade legal e podem resolver a disputa de forma satisfatória para ambas as partes. Contudo, ainda há resistência por parte de alguns advogados, que preferem a via judicial pela segurança em garantir o recebimento dos honorários.

Outro aspecto importante é que a mediação e conciliação dão às partes um controle maior sobre o resultado, permitindo que encontrem uma solução mutuamente benéfica. No entanto, a falta de conhecimento e o pouco incentivo para a utilização desses métodos no Brasil tornam a solução extrajudicial menos frequente.

Otimismo como causa no ingresso de ações

Muitos argumentam que o otimismo é a principal razão pela qual as pessoas decidem entrar com um processo, mas isso não é uma explicação suficiente. A verdadeira motivação geralmente vem da insatisfação legítima com serviços prestados, cobranças indevidas e outras injustiças que precisam ser reparadas. Assim, o otimismo serve apenas como um catalisador, não como a causa principal.

Além disso, é importante analisar o comportamento das empresas frequentemente processadas.

Problemas como má prestação de serviços e desrespeito ao Código de Defesa do Consumidor são os grandes responsáveis pelo alto número de processos judiciais. Portanto, em vez de culpar o otimismo das pessoas, talvez seja necessário aumentar as penalidades para as empresas que continuamente cometem infrações.

É possível ganhar uma causa na Justiça?

Sim, é possível ganhar uma causa na justiça, mas é importante ser realista quanto às chances. Em muitos casos, mesmo existindo um direito claro, o resultado final de um processo pode ser imprevisível, especialmente por conta do princípio do livre convencimento do juiz.

Ter o respaldo de um advogado competente pode fazer toda a diferença para aumentar as chances de vitória.

A possibilidade de ganhar depende de uma combinação de fatores: provas concretas, uma boa estratégia de argumentação, a qualidade da representação legal e como o juiz interpretará o caso específico. Assim, mesmo que existam evidências favoráveis, é importante ter expectativas realistas e ponderar os riscos.

Qual a chance de ganhar a causa de um processo?

A chance de ganhar a causa de um processo depende principalmente da solidez das provas e da qualidade da argumentação jurídica.

Embora não seja possível garantir um resultado, um caso bem fundamentado, com provas consistentes e uma boa estratégia de defesa, certamente aumenta a probabilidade de vitória. 

Além disso, contar com o suporte de um advogado experiente e analisar detalhadamente as particularidades do caso são fatores que podem melhorar consideravelmente suas chances de sucesso.

Quais os custos envolvidos em um processo judicial?

Os custos de um processo judicial incluem taxas processuais, honorários advocatícios e outros custos indiretos. Esses valores podem variar bastante, dependendo da complexidade do caso e da duração do processo. Abaixo, veja os principais custos envolvidos em uma ação judicial.

  • Taxas processuais: valores pagos ao tribunal para iniciar o processo.
  • Honorários advocatícios: normalmente, advogados cobram uma porcentagem do valor da causa ou um valor fixo pelo trabalho. Em muitos casos, ainda há os honorários de sucumbência, pagos ao advogado da parte vencedora.
  • Custos indiretos: tempo perdido em audiências, desgaste emocional, e custos administrativos são frequentemente ignorados, mas representam um impacto significativo no orçamento pessoal.

Dessa forma, esses custos precisam ser ponderados antes de decidir se vale a pena entrar com um processo, isso porque podem acabar consumindo grande parte do valor a ser recuperado.

Qual o impacto emocional de um processo judicial?

O impacto emocional de um processo judicial é significativo e pode incluir estresse, ansiedade e desgaste emocional. Assim, se envolver em um processo muitas vezes significa lidar com incertezas, longos períodos de espera e um ambiente adversário, que pode afetar o bem-estar psicológico das partes envolvidas.

Em outras palavras, a rotina de um processo judicial envolve muita espera, além de ansiedade quanto aos resultados. O desgaste gerado por audiências, trâmites burocráticos, e a incerteza sobre o desfecho da ação afeta não apenas o autor, mas também seus familiares e amigos próximos.

Existem outras formas de resolver o conflito?

Sim, existem outras formas de resolver conflitos, como mediação, conciliação e arbitragem. Essas alternativas são métodos extrajudiciais que permitem resolver disputas de maneira menos adversarial e, geralmente, com menos custos envolvidos.

A mediação e a conciliação são métodos que proporcionam uma solução negociada entre as partes, enquanto a arbitragem envolve um terceiro que toma a decisão com base no conflito apresentado.

Assim, esses métodos são mais rápidos e menos burocráticos do que um processo judicial, e têm a vantagem de serem mais flexíveis e menos formais.

No entanto, no Brasil, ainda há uma cultura de litígio que favorece a ação judicial, muitas vezes pela falta de conhecimento das partes e dos próprios advogados sobre as alternativas. 

Conclusão

Decidir se vale a pena entrar com um processo não é simples e requer uma análise minuciosa dos custos, das chances de sucesso e do impacto emocional envolvido.

Muitas vezes, a solução extrajudicial pode ser mais vantajosa, mas ainda é pouco explorada devido à preferência dos advogados pela previsibilidade e segurança dos processos judiciais. 

Portanto, é importante considerar todas as possibilidades e buscar aconselhamento jurídico de confiança para tomar a melhor decisão. 

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Autor
Foto - Eduardo Koetz
Eduardo Koetz

Eduardo Koetz é advogado, escritor, sócio e fundador da Koetz Advocacia e CEO da empresa de software jurídico Advbox.

Possui bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Possui tanto registros na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB (OAB/SC 42.934, OAB/RS 73.409, OAB/PR 72.951, OAB/SP 435.266, OAB/MG 204.531, OAB/MG 204.531), como na Ordem dos Advogados de Portugal - OA ( OA/Portugal 69.512L).
É pós-graduado em Direito do Trabalho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011- 2012) e em Direito Tributário pela Escola Superior da Magistratura Federal ESMAFE (2013 - 2014).

Atua como um dos principais gestores da Koetz Advocacia realizando a supervisão e liderança em todos os setores do escritório. Em 2021, Eduardo publicou o livro intitulado: Otimizado - O escritório como empresa escalável pela editora Viseu.

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