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Direito desportivo: o que é, importância e como trabalhar na área

O direito desportivo tem ganhado cada vez mais espaço no cenário jurídico brasileiro e internacional. O esporte movimenta bilhões de reais anualmente, e a complexidade das relações entre atletas, clubes, patrocinadores e federações exige uma regulamentação detalhada e especializada.

Se você tem interesse em advocacia e paixão por esportes, essa pode ser uma área promissora para sua carreira. Neste artigo, você vai entender tudo sobre o direito desportivo, sua importância, regulamentação, oportunidades no mercado e como se tornar um advogado especialista no setor.

O que é o Direito Desportivo?

O direito desportivo é o ramo do direito que regula as relações jurídicas no meio esportivo, abrangendo atletas, clubes, federações, patrocinadores e demais envolvidos em competições esportivas. Ele estabelece normas para garantir a ética, a transparência e a legalidade no esporte, prevenindo conflitos e protegendo os direitos dos profissionais da área.

Essa área é multidisciplinar e envolve diversos campos do direito, como:

  • Direito Civil: contratos entre atletas e clubes, direitos de imagem, patrocínios e licenciamentos;
  • Direito Trabalhista: vínculos empregatícios de atletas e técnicos, pagamento de salários e direitos trabalhistas;
  • Direito Penal: casos de doping, manipulação de resultados e violência esportiva;
  • Direito Empresarial: gestão de clubes como empresas, compliance e estruturação jurídica;
  • Direito Internacional: transferências de atletas, tratados esportivos e regulamentos internacionais.

O objetivo principal do direito desportivo é garantir a legalidade das práticas esportivas, protegendo os direitos dos atletas e assegurando que as competições sejam organizadas de maneira ética e transparente.

Qual é a origem do Direito Desportivo no Brasil?

O direito desportivo no Brasil teve início com o Decreto nº 3.199/1941, que criou uma estrutura legal para a regulamentação do esporte no país. Esse decreto estabeleceu a necessidade de normas específicas para cada modalidade esportiva e exigiu que confederações esportivas seguissem regulamentos alinhados com as diretrizes internacionais.

A evolução da legislação esportiva seguiu com a aprovação de novas leis, como:

  • Decreto nº 5.342/1943: reconheceu a prática profissional do futebol, exigindo o registro de técnicos e jogadores;
  • Regimento do Conselho Nacional do Desporto (1945): criou o primeiro Código Brasileiro de Futebol;
  • Lei Pelé (Lei nº 9.615/1998): modernizou o esporte nacional, estabelecendo normas sobre contratos de trabalho, direitos de imagem, formação de atletas e transferências;
  • Lei Geral do Esporte (Lei nº 14.597/2023): consolidou a legislação esportiva, reunindo regras antes dispersas em várias normas.

Com essas regulamentações, o direito desportivo ganhou mais estrutura e passou a oferecer maior segurança jurídica para atletas, clubes e demais envolvidos.

O que a lei diz sobre o Direito Desportivo?

O Direito Desportivo é regulamentado por um conjunto de leis que garantem a organização do esporte, a proteção dos atletas e a autonomia das entidades esportivas. As principais normas que regem essa área são a Constituição Federal, a Lei Pelé (Lei nº 9.615/1998), a Lei Geral do Esporte (Lei nº 14.597/2023), o Estatuto do Torcedor e o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).

A Constituição Federal, no artigo 217, estabelece a responsabilidade do Estado no fomento ao esporte, garantindo a autonomia das entidades esportivas e promovendo o desporto educacional e de alto rendimento. Além disso, determina que a Justiça Desportiva deve esgotar todas as instâncias antes que um caso possa ser levado ao Poder Judiciário. Confira o artigo na íntegra:

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observados:

I – A autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto à sua organização e funcionamento.
II – A destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento.
III – O tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não profissional.
IV – A proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.

§ 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.
§ 2º A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo, para proferir decisão final.
§ 3º O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social.

A Lei Pelé modernizou a regulamentação esportiva, tratando de contratos de trabalho, direitos de imagem e transferências de atletas. Já a Lei Geral do Esporte consolidou diversas normas em um único texto, tornando a legislação mais acessível e eficiente.

Em resumo, o Direito Desportivo tem um arcabouço jurídico sólido que garante a organização e segurança jurídica no esporte, protegendo atletas e entidades envolvidas.

Quais são os órgãos julgadores do Direito Desportivo?

Os órgãos responsáveis por julgar questões no direito desportivo são os Tribunais de Justiça Desportiva (TJD) e os Superiores Tribunais de Justiça Desportiva (STJD). Eles atuam como instâncias administrativas, independentes do Poder Judiciário, sendo parte do Ministério do Esporte e vinculados ao Poder Executivo.

A Justiça Desportiva não integra o sistema judiciário comum, o que significa que não há a presença de juízes togados em seus julgamentos. As decisões tomadas nesses tribunais só podem ser levadas ao Poder Judiciário após esgotadas todas as instâncias desportivas, conforme determina o artigo 217 da Constituição Federal.

Os principais órgãos julgadores do direito desportivo são:

  • Superiores Tribunais de Justiça Desportiva (STJD): responsáveis por julgar casos em âmbito nacional. Cada modalidade esportiva possui seu próprio STJD, ou seja, não existe um tribunal único para todos os esportes;
  • Tribunais de Justiça Desportiva (TJD): atuam em competições estaduais e municipais.

Além dos STJD e TJD, existem também as Comissões Disciplinares, que fazem a primeira análise dos casos. Elas funcionam como juízo de primeiro grau, enquanto os Tribunais e Superiores Tribunais atuam como instâncias recursais.

Qual é a importância do Direito Desportivo?

O direito desportivo garante a legalidade, a ética e a organização do esporte. Ele protege os direitos dos atletas, regulamenta as relações entre clubes e federações, assegura a transparência nas competições e cria mecanismos para a resolução de conflitos esportivos.

Além disso, proporciona segurança jurídica para investidores e patrocinadores, impulsionando o desenvolvimento do setor.

Sem um sistema jurídico bem estruturado, o esporte poderia ser prejudicado por fraudes, manipulação de resultados, descumprimento de contratos e falta de regulamentação trabalhista para atletas e técnicos. O direito desportivo atua para evitar esses problemas, promovendo um ambiente mais seguro e profissionalizado.

Quais são os princípios do Direito Desportivo?

Os princípios do direito desportivo são diretrizes que regulam a prática esportiva, garantindo transparência, justiça e equilíbrio nas relações entre atletas, clubes, federações e demais envolvidos. Eles asseguram que as competições ocorram de forma ética e que os direitos de todas as partes sejam respeitados.

Entre os principais, destacam-se o princípio da boa-fé e o princípio da regra especial prevalece sobre a regra geral, essenciais para a integridade do esporte. Confira mais detalhes sobre cada um deles abaixo.

Princípio da boa-fé

A boa-fé é um dos pilares do direito desportivo, garantindo que todas as partes envolvidas nas competições e contratos ajam com honestidade e ética. No esporte, esse princípio reforça a importância da lealdade entre atletas, clubes, federações e patrocinadores.

Para evitar conflitos e assegurar um ambiente competitivo saudável, é essencial que todas as relações sejam baseadas na transparência e na cooperação mútua. Isso vale para contratos de trabalho, negociações de patrocínio e até mesmo para as decisões tomadas pelos tribunais desportivos.

Princípio da regra especial prevalece sobre a regra geral

No direito desportivo, as normas específicas de cada modalidade ou federação têm prioridade sobre as regras gerais do direito civil ou trabalhista. Esse princípio assegura que as particularidades do esporte sejam respeitadas, garantindo que a legislação desportiva tenha autonomia para regular a prática esportiva.

No entanto, essa regra não pode contrariar a ordem pública ou princípios fundamentais do ordenamento jurídico. Caso uma norma desportiva vá contra um direito fundamental previsto na Constituição ou em outra legislação superior, a norma geral prevalecerá. Isso protege os atletas e demais envolvidos de possíveis abusos ou irregularidades.

O que faz um advogado de Direito Desportivo?

O advogado especializado em direito desportivo atua na assessoria jurídica de atletas, clubes, federações e empresas ligadas ao setor esportivo, garantindo que todas as relações contratuais, trabalhistas e comerciais estejam em conformidade com a legislação vigente.

Embora o futebol seja a modalidade mais lembrada, esportes como vôlei, basquete, automobilismo e até eSports também exigem suporte jurídico especializado. 

Direito desportivo

Veja abaixo as principais funções desse profissional!

Negociação de atletas

O advogado desportivo é essencial nos processos de compra, venda e empréstimo de jogadores. Ele elabora e analisa contratos, assegurando que todas as cláusulas respeitem os direitos do atleta e do clube.

Além disso, auxilia nas negociações financeiras, garantindo que os valores pagos estejam dentro das normas legais e evitando possíveis litígios futuros. A transferência de jogadores para times estrangeiros também exige atenção a regras internacionais, como as da FIFA.

Assessoria jurídica

Muitos clubes esportivos funcionam como verdadeiras empresas e precisam de suporte jurídico para lidar com contratos, patrocínios, tributações e direitos de imagem. O advogado desportivo pode prestar consultoria estratégica, garantindo que todas as operações ocorram de forma legal e transparente.

Além disso, é comum que ele atue na estruturação jurídica de clubes e entidades esportivas, prevenindo problemas administrativos e financeiros.

Defesa de atletas e de clubes

Questões disciplinares são comuns no esporte, e o advogado desportivo pode atuar na defesa de atletas em casos de doping, agressões em campo e descumprimento de regras esportivas.

Ele também representa clubes e atletas perante a Justiça Desportiva, buscando reverter punições ou minimizar sanções. Esse tipo de atuação exige conhecimento específico sobre os regulamentos de cada modalidade e suas entidades reguladoras.

Marketing esportivo

O marketing esportivo envolve contratos de patrocínio, licenciamento de imagem e negociações comerciais entre atletas e marcas. O advogado especializado garante que os direitos do atleta sejam respeitados, evitando cláusulas abusivas e garantindo que os acordos sejam vantajosos.

Além disso, ele pode atuar na proteção da imagem e do nome do atleta, assegurando o uso adequado desses direitos em campanhas publicitárias.

Direito migratório

Transferências internacionais de atletas envolvem questões legais complexas, como vistos de trabalho, contratos em países estrangeiros e tributação internacional. O advogado desportivo auxilia na regularização da documentação necessária para que o jogador possa atuar legalmente no exterior ou para que clubes brasileiros contratem atletas estrangeiros sem infringir normas de imigração e do direito migratório.

Direitos trabalhistas

Assim como qualquer profissional, atletas e funcionários de clubes possuem direitos trabalhistas que devem ser garantidos. O advogado desportivo pode atuar em casos de salários atrasados, falta de pagamento de verbas rescisórias e disputas contratuais.

Além disso, ele auxilia na negociação de benefícios, como seguro contra lesões e direitos previdenciários, garantindo a segurança jurídica da carreira do atleta.

Quanto ganha um advogado de Direito Desportivo?

Atualmente, um advogado de direito desportivo no Brasil ganha, em média, R$ 6.613,71 por mês para uma jornada de 41 horas semanais. No entanto, essa remuneração pode variar conforme o nível de experiência e o porte da empresa.

Além da experiência, o porte da empresa também influencia os ganhos. Advogados que trabalham para médias e grandes empresas tendem a ter salários mais elevados, principalmente se atuarem com clubes de futebol ou patrocinadores de grande porte.

Essa área pode ser bastante lucrativa, especialmente para aqueles que conseguem representar atletas renomados ou trabalhar em contratos milionários de transferências e patrocínios.

O que tem de interessante na área do Direito Desportivo?

O direito desportivo se destaca por ser uma área com baixa concorrência, excelente remuneração e um mercado em constante crescimento. Além de permitir o contato direto com grandes clubes e atletas, essa especialização oferece oportunidades únicas para advogados que desejam atuar em um setor dinâmico e globalizado. Veja abaixo os principais motivos para considerar essa área:

Poucos profissionais no mercado

O número de advogados especializados em direito desportivo ainda é relativamente baixo, especialmente quando comparado a áreas mais tradicionais, como direito civil ou trabalhista. Isso significa que há menos concorrência e mais chances de crescimento para quem se especializa. Com a crescente regulamentação do esporte e a profissionalização dos clubes, a demanda por advogados na área tende a aumentar, tornando esse um mercado repleto de oportunidades.

Boa remuneração

O esporte movimenta cifras milionárias, principalmente no futebol, que é a modalidade com maior demanda por serviços jurídicos. Atuar para clubes, federações e atletas pode gerar ganhos elevados, especialmente em contratos de patrocínio, transferências de jogadores e disputas judiciais.

Advogados que representam atletas renomados ou trabalham com grandes clubes podem negociar honorários significativos, tornando a área financeiramente atrativa.

Bom mercado

O mercado esportivo está em constante expansão, tanto no Brasil quanto no exterior. Além do futebol, outras modalidades como vôlei, basquete, automobilismo e até eSports estão ganhando relevância e movimentando grandes quantias. Essa diversidade de segmentos permite que o advogado escolha nichos específicos para atuar, ampliando suas oportunidades.

Além disso, a globalização do esporte aumenta a necessidade de profissionais especializados em direito internacional desportivo, tornando a área ainda mais promissora.

Como ingressar no Direito Desportivo?

Para ingressar no direito desportivo, o primeiro passo é se especializar. Cursos, pós-graduações e treinamentos específicos são fundamentais para aprofundar o conhecimento nas legislações esportivas e entender a dinâmica do setor. Além disso, estudar casos reais e acompanhar decisões da Justiça Desportiva ajudam a desenvolver uma visão prática da área.

Apesar de ser um mercado em crescimento e com poucos especialistas, a concorrência existe. Por isso, é essencial buscar diferenciação, adquirindo habilidades como negociação, direito internacional e gestão de contratos. Falar outros idiomas, especialmente inglês e espanhol, também pode ser um grande diferencial, já que muitos contratos envolvem transações internacionais.

Outra estratégia fundamental é o networking. Criar conexões com clubes, federações, empresários e outros advogados do setor pode abrir portas para boas oportunidades. Participar de eventos esportivos, congressos jurídicos e associações especializadas pode ser um caminho eficaz para conquistar visibilidade e credibilidade na área.

Qual é o perfil do advogado especialista em Direito Desportivo?

O advogado especialista em direito desportivo deve ter conhecimento multidisciplinar, habilidade em negociação e paixão pelo esporte. Além de dominar a legislação esportiva, ele precisa entender contratos, direito trabalhista, empresarial e internacional, já que muitas transações envolvem transferências de atletas para outros países.

A comunicação eficaz é essencial, pois o profissional lidará com atletas, dirigentes, patrocinadores e agentes. Além disso, deve manter-se atualizado sobre mudanças nas regras esportivas e tendências do mercado. Por fim, o networking é um diferencial, já que grande parte das oportunidades no setor surge por meio de conexões com clubes, federações e outros advogados especializados.

Conclusão

O direito desportivo é um campo repleto de oportunidades para advogados que desejam atuar em um nicho especializado. Com a crescente profissionalização do esporte e o aumento das movimentações financeiras no setor, a demanda por profissionais capacitados só tende a crescer.

Além de ser um mercado promissor, essa área permite um trabalho dinâmico, lidando diretamente com atletas, clubes, federações e patrocinadores. Para se destacar, é essencial buscar qualificação, conhecer a legislação específica e construir uma boa rede de contatos.

Se você deseja ingressar no direito desportivo, é fundamental ter uma gestão eficiente do seu trabalho. A organização de contratos, processos e atendimentos exige um sistema que facilite o dia a dia e otimize sua atuação.

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Autor
Foto - Eduardo Koetz
Eduardo Koetz

Eduardo Koetz é advogado, escritor, sócio e fundador da Koetz Advocacia e CEO da empresa de software jurídico Advbox.

Possui bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Possui tanto registros na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB (OAB/SC 42.934, OAB/RS 73.409, OAB/PR 72.951, OAB/SP 435.266, OAB/MG 204.531, OAB/MG 204.531), como na Ordem dos Advogados de Portugal - OA ( OA/Portugal 69.512L).
É pós-graduado em Direito do Trabalho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011- 2012) e em Direito Tributário pela Escola Superior da Magistratura Federal ESMAFE (2013 - 2014).

Atua como um dos principais gestores da Koetz Advocacia realizando a supervisão e liderança em todos os setores do escritório. Em 2021, Eduardo publicou o livro intitulado: Otimizado - O escritório como empresa escalável pela editora Viseu.