pena de revelia

Pena de revelia: o que é, como é aplicada e quando é decretada

A pena de revelia é um mecanismo jurídico relevante, principalmente no contexto do processo civil. Dessa forma, sua decretação pode alterar o curso de uma ação judicial e impactar diretamente os direitos de defesa do réu. 

Compreender o que significa ser considerado “revel”, as consequências jurídicas associadas e as formas de evitar ou reverter essa situação é importante tanto para profissionais do Direito quanto para quem enfrenta uma disputa judicial.

Neste artigo, exploraremos em profundidade o que é a pena de revelia, como é aplicada, seus efeitos no processo civil e penal, e medidas preventivas e corretivas.

Além disso, explicaremos como a gestão eficiente de processos por meio de ferramentas como a ADVBOX pode auxiliar na organização e no acompanhamento de prazos legais.

O que é a pena de revelia?

A pena de revelia é a consequência jurídica aplicada ao réu que, mesmo após ser citado formalmente, não apresenta contestação no prazo determinado. Ou seja, a revelia é um termo jurídico que se refere à situação em que o réu, mesmo após oficialmente notificado, opta por não apresentar defesa em um processo legal. Quando isso ocorre, o Código de Processo Civil (CPC), em seu artigo 344, estabelece que:

Art. 344, CPC. “Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor.”

Essa presunção, contudo, não é absoluta. Embora os fatos apresentados pelo autor sejam presumidos verdadeiros, o juiz ainda deve analisar as provas e o mérito do caso antes de decidir.

A etimologia da palavra nos ajuda a entender melhor seu significado. Originada do latim ‘rebellis’, que significa rebelde ou desobediente, no âmbito jurídico ‘revel’ é usado para se referir ao réu que não atende ao chamado para acompanhar o processo movido contra ele.

Assim, o termo ‘réu revel’ se aplica a quem se abstém de participar do processo, seja pessoalmente ou por meio de um representante legal.

Como a revelia é aplicada no processo civil?

No processo civil, a revelia ocorre quando o réu, regularmente citado, não apresenta sua defesa no prazo estipulado. Essa ausência de contestação gera consequências processuais importantes, tanto para o andamento da ação quanto para os direitos do réu.

A aplicação da revelia está fundamentada no artigo 344 do Código de Processo Civil (CPC), que prevê a presunção de veracidade das alegações de fato formuladas pelo autor. No entanto, é importante ressaltar que essa presunção não é absoluta e pode ser relativizada em determinados casos.

Contudo, para a revelia ser aplicada, é necessário que algumas condições sejam atendidas, conferindo legitimidade à sua aplicação:

  • Citação válida: o réu deve ter sido regularmente citado. Caso contrário, a decretação de revelia será nula.
  • Ausência de contestação: não apresentar defesa no prazo de 15 dias úteis, salvo nos casos em que a lei prevê prazo diverso.
  • Natureza do direito envolvido: apenas casos que tratam de direitos disponíveis podem gerar os efeitos plenos da revelia.

Vale ressaltar que embora a revelia seja um recurso processual eficaz para impulsionar o andamento da ação, ela não se aplica de maneira automática ou irrestrita. Dessa forma, existem situações em que, mesmo diante da ausência de contestação, a revelia não produz os efeitos normais — como veremos em outro momento.

Qual a diferença entre revelia e os efeitos da revelia?

A diferença principal está no conceito e nas consequências: enquanto a revelia é o estado processual em que o réu se encontra ao não apresentar contestação dentro do prazo, os efeitos da revelia são as consequências jurídicas que essa inércia pode gerar.

A revelia ocorre quando o réu, devidamente citado, não se manifesta no processo. Por outro lado, os efeitos da revelia incluem, em regra, a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor, além de dispensar a necessidade de intimação do réu para as etapas seguintes, salvo para a sentença.

Essa presunção de veracidade, no entanto, é relativa e depende de vários fatores, como a natureza dos direitos em questão (indisponíveis, por exemplo) ou a inverossimilhança das alegações do autor. Em casos assim, a revelia pode ser declarada sem produzir os efeitos habituais.

Assim, a revelia é uma condição do réu em razão de sua inação no processo, enquanto os efeitos da revelia são os desdobramentos jurídicos dessa condição, que podem variar dependendo do contexto e da legislação aplicável.

Quando o réu revel pode produzir provas?

Mesmo em situação de revelia, o réu mantém o direito de produzir provas, desde que o faça dentro de limites processuais claros, como:

  • Antes da decisão final: o réu pode se manifestar e apresentar provas até o momento em que o juiz profere a sentença.
  • Durante a fase de instrução: na fase em que são coletadas provas, o réu revel pode contribuir com documentos, testemunhas ou solicitar perícias.

Essa possibilidade de produzir provas demonstra que a revelia não é uma renúncia total ao direito de defesa, mas é limitada pelo estágio processual e pelas normas do juiz.

Como o réu revel pode produzir provas?

A produção de provas pelo réu revel ocorre de forma semelhante à de outros réus, desde que respeitados os prazos e condições processuais. As principais maneiras incluem:

  • Apresentação de documentos: o réu pode fornecer documentos que contradigam os fatos alegados pelo autor.
  • Convocação de testemunhas: é possível indicar pessoas que possam esclarecer ou refutar as alegações.
  • Perícia técnica: o réu pode solicitar uma análise técnica ou científica quando a questão exige esclarecimento especializado.

No entanto, a discricionariedade do juiz em aceitar ou rejeitar as provas apresentadas é maior no caso de revelia, especialmente considerando que os efeitos dessa condição já estão em vigor.

O que acontece quando é decretada a revelia?

Quando a revelia é decretada, o processo sofre impactos significativos. Entre as principais consequências estão a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor, a perda de prazos processuais pelo réu e a possibilidade de julgamento antecipado.

Entretanto, é essencial observar que nem sempre a revelia produz todos esses efeitos de forma automática. O artigo 345 do Código de Processo Civil lista situações em que a presunção de veracidade não se aplica, garantindo o equilíbrio e a justiça processual:

  1. Pluralidade de réus: se há mais de um réu na ação e ao menos um deles apresentar defesa, a revelia não gera a presunção de veracidade dos fatos.
  2. Litígios envolvendo direitos indisponíveis: em casos que tratem de direitos fundamentais ou familiares, a pena de revelia não pode ser aplicada, preservando valores essenciais.
  3. Ausência de documentos obrigatórios na petição inicial: se a petição inicial não estiver acompanhada de documentos essenciais à prova do ato, os efeitos da revelia não se concretizam.
  4. Alegações inverossímeis ou contraditórias: quando os fatos apresentados pelo autor são altamente improváveis ou estão em desacordo com as provas nos autos, o juiz pode afastar os efeitos da revelia.

Essas exceções reforçam a importância de uma análise cuidadosa pelo magistrado, assegurando que os direitos do réu sejam preservados mesmo diante de sua ausência inicial no processo. A revelia, portanto, não é sinônimo de derrota automática, pois cabe ao juiz ponderar as circunstâncias do caso antes de proferir sua decisão.

Quais são os efeitos da revelia no processo penal?

Os efeitos da revelia no processo penal incluem a presunção de veracidade das alegações do autor, o possível avanço do julgamento e a desnecessidade de intimação do réu para etapas subsequentes. Esses efeitos variam de acordo com o contexto do processo e estão sujeitos a exceções previstas na legislação e jurisprudência.

Quando o réu, mesmo após ser oficialmente notificado, não apresenta defesa, o juiz pode declarar a revelia, gerando uma série de consequências, tais como:

  1. Presunção de veracidade: no Direito Penal, o silêncio do réu pode ser interpretado como aceitação dos fatos apresentados pelo autor. Contudo, essa presunção é relativa. De acordo com o Superior Tribunal de Justiça (STJ), para que o pedido do autor seja julgado procedente, é indispensável que o juiz analise as alegações e as provas produzidas.
  2. Avanço do julgamento: em determinados casos, o juiz pode optar por emitir um julgamento antes do encerramento do processo, prática conhecida como “julgamento antecipado”. No entanto, o STJ determina que, mesmo na revelia, o réu deve ser intimado na fase de conhecimento e no cumprimento de sentença.
  3. Desnecessidade de intimação do réu: o réu revel pode perder o direito de ser notificado das etapas seguintes do processo. Ainda assim, tem a possibilidade de recorrer da decisão e participar do processo a qualquer momento. Ressalta-se que, em processos eletrônicos, a publicação das decisões no Diário Oficial é obrigatória, conforme decisão recente da terceira turma do STJ, especialmente quando o réu revel não tiver advogado constituído nos autos.

Apesar dessas consequências, a revelia no processo penal não elimina todos os direitos do réu. Ele pode, por exemplo, apelar da decisão e participar das fases subsequentes, desde que manifeste sua intenção de se integrar ao processo.

Por fim, vale reforçar que a revelia não garante automaticamente um desfecho negativo para o réu. O juiz deve avaliar os méritos das alegações feitas pelo autor, podendo rejeitá-las se forem infundadas ou inconsistentes.

Como evitar a pena de revelia?

Evitar a pena de revelia exige atenção aos prazos processuais e uma atuação rápida após a citação. O réu deve garantir que sua contestação seja apresentada dentro do prazo legal e de maneira apropriada. Para isso, é fundamental adotar algumas práticas essenciais.

O acompanhamento regular do processo é um dos primeiros passos. Assim que o réu é citado, deve-se consultar imediatamente um advogado ou acessar os sistemas judiciais eletrônicos, como PJe ou E-SAJ, para verificar o andamento da ação. Além disso, o uso de ferramentas tecnológicas, como o ADVBOX, pode fazer toda a diferença para monitorar prazos e organizar as etapas processuais.

Outro ponto fundamental é respeitar os prazos processuais. No processo civil, por exemplo, o prazo para contestar é de 15 dias úteis após a citação. Assim, agir prontamente após ser notificado é indispensável.

O tempo curto para apresentar a defesa exige que o réu reúna provas, organize documentos e encaminhe todas as informações necessárias ao seu advogado o mais rápido possível.

Ter um advogado de confiança é indispensável para evitar a revelia. Esse profissional é o responsável por analisar os autos, identificar estratégias de defesa e protocolar a contestação no prazo correto.

Caso não seja possível contratar um advogado particular, a defensoria pública pode ser acionada, garantindo que o réu não fique sem representação jurídica.

A organização documental também é crucial. Desde o momento da citação, o réu deve reunir contratos, e-mails, comprovantes ou qualquer outro material que possa servir como prova para sua defesa. Validar esses documentos com o advogado ajuda a assegurar que são relevantes e úteis para o caso.

Por fim, é essencial que o réu responda à citação e acompanhe todas as etapas do processo. Ignorar o chamado judicial é o principal motivo de revelia. Mesmo que existam dificuldades financeiras ou falta de acesso a informações, o réu deve buscar alternativas, como a defensoria pública ou sistemas de consulta online, para evitar a perda de prazos.

Com organização, acompanhamento e ação rápida, é possível evitar a pena de revelia e garantir uma participação ativa no processo, preservando os direitos do réu e aumentando suas chances de sucesso.

Quais são os prazos para evitar a revelia?

Os prazos para evitar a revelia variam conforme o tipo de processo judicial, mas, em geral, a defesa deve ser apresentada imediatamente após a citação, respeitando os limites legais específicos de cada área. Abaixo, detalhamos os prazos mais comuns:

  • Processo civil: 15 dias úteis para apresentar a contestação após a citação. Em casos excepcionais, como defesa por advogado dativo ou em regiões de difícil acesso, esse prazo pode ser prorrogado.
  • Processo trabalhista: a defesa deve ser apresentada na audiência inicial ou, na ausência de audiência, em até 5 dias úteis após a citação.
  • Processo penal: Geralmente, o prazo é de 10 dias após a citação para apresentar resposta à acusação, salvo prazos específicos estabelecidos por lei.

Atuar imediatamente após ser citado é a melhor maneira de evitar problemas com os prazos. Assim, com organização e agilidade, é possível evitar a pena de revelia e participar ativamente do processo, assegurando o exercício pleno dos direitos de defesa.

É possível reverter a pena de revelia?

Sim, é possível reverter a pena de revelia, mas o processo depende das circunstâncias específicas de cada caso e exige análise técnica cuidadosa. A reversão geralmente ocorre em situações onde se verifica alguma irregularidade processual ou quando o réu consegue justificar sua ausência no momento oportuno.

Um dos principais fundamentos para reverter a revelia está na existência de vícios relacionados à citação do réu. Segundo o Código de Processo Civil, a citação é o ato que confere ao réu a ciência formal sobre a existência do processo e é essencial para a validade de sua participação. Assim, a revelia poderá ser revertida caso se comprove que:

  • A citação foi inválida, como quando entregue a uma pessoa sem capacidade para recebê-la;
  • Não houve citação prévia antes da sentença ser proferida;
  • Houve erro na comunicação do prazo para apresentação de defesa.

Existe pena de revelia no processo de execução?

Não, a pena de revelia não se aplica ao processo de execução. Isso ocorre porque a revelia está diretamente relacionada à ausência de contestação no processo de conhecimento, situação que não é típica do processo de execução.

No processo de conhecimento, a revelia é decretada quando o réu, devidamente citado, deixa de apresentar defesa no prazo legal, gerando a presunção relativa de veracidade dos fatos alegados pelo autor. Esse instituto tem como objetivo promover a celeridade processual e evitar que a parte autora seja prejudicada pela inércia do réu.

Por outro lado, no processo de execução, o foco não está na análise de fatos ou na contestação de alegações, mas sim no cumprimento de uma obrigação previamente reconhecida, seja por sentença judicial ou outro título executivo, como contratos ou cheques. Portanto, nesse tipo de processo, não há lugar para a contestação que daria origem à revelia.

O que fazer após a revelia?

Após a revelia, o réu deve agir prontamente para reduzir seus impactos. O primeiro passo é verificar se a citação foi válida. Caso identifique falhas, como endereço incorreto ou entrega a pessoa não habilitada, é possível requerer a anulação da revelia com base no vício processual.

Paralelamente, é necessário acompanhar o andamento do processo para entender as etapas ainda pendentes e identificar oportunidades de intervenção, como a apresentação de provas durante a fase de instrução.

Mesmo após a revelia, o réu pode produzir provas relevantes, incluindo documentos, depoimentos de testemunhas e pedidos de perícia, desde que ainda não tenha ocorrido a sentença. Caso o processo já tenha sido julgado, é possível recorrer utilizando embargos à execução, ação rescisória ou apelação, dependendo da fase em que se encontra o caso.

Além disso, é importante contar com suporte jurídico especializado para avaliar as melhores estratégias e corrigir eventuais falhas no processo. Para evitar situações semelhantes no futuro, investir em ferramentas de gestão de prazos, como a ADVBOX, pode oferecer organização e controle do acompanhamento processual.

Conclusão

A pena de revelia é um mecanismo jurídico que pode acelerar o processo judicial, mas também impõe riscos significativos para o réu. Entender seus efeitos, as formas de evitá-la e as possibilidades de reversão é essencial para garantir um julgamento justo.

Além disso, a utilização de ferramentas tecnológicas pode ser um diferencial estratégico para profissionais do Direito. Organizar processos, monitorar prazos e gerenciar demandas com eficiência são passos cruciais para evitar a revelia e outros contratempos jurídicos.

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Automatize a produção de suas petições
Autor
Foto - Eduardo Koetz
Eduardo Koetz

Eduardo Koetz é advogado, escritor, sócio e fundador da Koetz Advocacia e CEO da empresa de software jurídico Advbox.

Possui bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Possui tanto registros na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB (OAB/SC 42.934, OAB/RS 73.409, OAB/PR 72.951, OAB/SP 435.266, OAB/MG 204.531, OAB/MG 204.531), como na Ordem dos Advogados de Portugal - OA ( OA/Portugal 69.512L).
É pós-graduado em Direito do Trabalho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011- 2012) e em Direito Tributário pela Escola Superior da Magistratura Federal ESMAFE (2013 - 2014).

Atua como um dos principais gestores da Koetz Advocacia realizando a supervisão e liderança em todos os setores do escritório. Em 2021, Eduardo publicou o livro intitulado: Otimizado - O escritório como empresa escalável pela editora Viseu.