A tecnologia não é neutra. Neste artigo pretendemos expor como a tecnologia na advocacia pode afetar negativamente o mercado jurídico e derrubar a renda de todos.
Sendo assim, os grandes escritórios de advocacia que lidam com estoques gigantescos de processos judiciais estão adotando diversas tecnologias que visam substituir advogados por softwares e algorítimos. Isso devido a atual intensificação deste processo acelerado pela inteligência artificial.
Relatos apontam para uma realidade impactante
Super Bancas jurídicas que tinham entre 200 e 300 advogados reduziram seu pessoal para menos de 50% do que tinham a 5 anos atrás.
Ademais, os advogados são substituídos por programadores, sendo que, em média, um programador desemprega 5 advogados, potencializando o trabalho de 1 advogado que fica.
Ainda da parte do Judiciário, o processo eletrônico está reduzindo a necessidade de capital humano para a manutenção de processos. Afinal, está eliminando os fretes de processos físicos do escritório ao fórum, feito em geral por estagiários e correspondentes.
“Com o processo eletrônico na Justiça não é mais necessário que alguém faça a carga do processo ou o acompanhe no balcão do fórum” afirmou Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, em entrevista para a revista Valor Econômico.
Na mesma matéria, Renato Cury, presidente da AASP, explica sobre a adesão dos grandes escritórios aos robôs. Segundo ele, eles “apresentam maior eficiência para funções repetitivas, principalmente para os que trabalham com o chamado contencioso de massa”.
Tratam-se não apenas de advogados júniores, mas também de advogados plenos e seniores, que dirigiam equipes jurídicas inteiras.
São advogados experientes que também estão perdendo os empregos, pois toda sua equipe está sendo demitida, e assim, ao sair, montam dezenas de escritórios pequenos.
A visão dos escritórios corporativos de massa
O CEO da Siqueira Castro, uma das top 3 super bancas jurídicas do país, afirma com orgulho que o escritório tem mais de 500 mil processos em 18 estados do Brasil. Mesmo assim a banca tem um número de advogados menor do que há dez anos atrás, mas um estoque com tamanho em dobro.
“Fazemos muito mais com menos pessoas, é um caminho sem volta, uma nova fronteira que busca eficiência pela automação”. Carlos Fernando Siqueira Castro.
A exclusão em massa dos trabalhadores jurídicos destas super bancas aumenta a disputa por clientes pessoas físicas e pequenas empresas.
Assim sendo, aumentando a concorrência, um universo de 100 clientes que antes era dividido entre 10 escritórios, passa a ser dividido em 20 ou 30.
Por isso, a disputa baseada no valor dos honorários para a advocacia de autor, nas áreas trabalhista, consumidor, previdenciária, cível e criminal, derruba a média geral de honorários.
A concorrência já acirrada com a inserção de um grande volume de profissionais qualificados, pressiona os honorários para baixo. O resultado é a redução do volume de clientes nos escritórios já estabelecidos.
Posição da OAB e outras instituições
De fato, o presidente da OAB Felipe Santa Cruz parece estar, mesmo que timidamente, preocupado com esta situação. Desse modo, ele está ampliando a discussão sobre os limites da publicidade na advocacia.
Obviamente que a OAB tem a visão externa, não de quem não está vivendo na pele a exclusão do mercado e a crescente desvalorização da mão de obra do trabalhador jurídico.
Os conglomerados de educação jurídica, que cobram valores exorbitantes em cursos de pós graduação que chegam a custar mais de 40 mil reais, pregam a falsa ideia de que o “mercado está mais exigente, e por isso é preciso investir mais em cursos caros, para obter diferenciais no currículo”, transferindo para o próprio advogado a culpa pela mercantilização do serviço jurídico gerado pela automação.
Toda tecnologia é desenvolvida para uma finalidade objetiva e com um interesse claro.
No Brasil, o desenvolvimento de tecnologia jurídica para grandes bancas de contencioso de massa tem como objetivo “reduzir o custo processual para grandes empresas, mercantilizando o direito do consumidor”, que a médio prazo resultam em crescente desrespeito aos direitos do consumidor e do trabalhador.
Qual o tipo de tecnologia você entende que deve ser desenvolvida para a nova geração de advogados como ela pode melhorar a condição de trabalho, de renda aproximando os advogados dos clientes? Comente abaixo.
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