Trânsito em julgado: o que é e quando ocorre?
No universo jurídico, o termo trânsito em julgado é amplamente utilizado, mas nem sempre compreendido em sua totalidade. Ele marca um dos momentos mais importantes de um processo judicial: o instante em que a decisão torna-se definitiva, não cabendo mais recursos.
Entender esse conceito é essencial para advogados, partes e demais operadores do Direito, pois influencia diretamente o cumprimento das decisões, a execução de sentenças e a segurança jurídica.
Neste conteúdo, vamos explicar o que é o trânsito em julgado, quando ele ocorre, quais são suas consequências e como é possível revertê-lo em situações excepcionais. Também abordaremos as diferenças entre coisa julgada, trânsito em julgado parcial e os prazos aplicáveis a diferentes órgãos, como o Ministério Público e a Defensoria Pública.
O que é trânsito em julgado?
O trânsito em julgado ocorre quando uma decisão judicial torna-se definitiva, ou seja, quando não há mais possibilidade de interposição de recursos ordinários ou extraordinários. Em outras palavras, trata-se do momento em que o processo alcança estabilidade e a sentença adquire força de coisa julgada.
Esse instituto tem como principal objetivo garantir a segurança jurídica, impedindo que o mesmo conflito seja discutido indefinidamente nos tribunais. A partir do trânsito em julgado, as partes ficam obrigadas a cumprir o que foi determinado pela decisão judicial, seja no âmbito civil, penal, trabalhista ou administrativo.
Coisa julgada
A coisa julgada é o efeito jurídico do trânsito em julgado. Prevista no artigo 502 do Código de Processo Civil (CPC), ela torna imutável e indiscutível a decisão de mérito que não mais admite recurso. Assim, nenhum juiz ou tribunal poderá modificar aquilo que já foi decidido em definitivo.
Em termos práticos, a coisa julgada assegura que uma sentença não possa ser reaberta ou contestada, preservando a estabilidade das relações jurídicas. É um mecanismo essencial para o equilíbrio do sistema judicial, pois garante que as decisões tenham fim e que o jurisdicionado possa ter confiança no resultado final do processo.
Trânsito em julgado parcial
O trânsito em julgado parcial ocorre quando apenas uma parte da decisão judicial torna-se definitiva, enquanto outras ainda estão sujeitas a recurso. Esse fenômeno é possível em processos com múltiplos pedidos ou partes, nos quais nem todos os aspectos da decisão são impugnados.
Por exemplo, se uma sentença contém dois pedidos e o recurso aborda apenas um deles, o outro transita em julgado imediatamente. O CPC, em seu artigo 356, prevê essa possibilidade, permitindo inclusive a execução imediata da parte já transitada em julgado, mesmo que o restante ainda esteja em discussão.
O que ocorre quando a ação transitou em julgado?
Quando uma ação transita em julgado, a decisão passa a ter eficácia definitiva, e as partes devem cumpri-la integralmente. Nesse momento, o processo deixa a fase de conhecimento (discussão do direito) e pode ingressar na fase de execução, em que a sentença é efetivamente cumprida.
Isso pode significar, por exemplo, o pagamento de valores, a entrega de bens, o cumprimento de obrigações ou até mesmo a prisão, em casos criminais. O juiz emite o mandado de cumprimento de sentença, e o descumprimento pode gerar medidas coercitivas.
Além disso, o trânsito em julgado impede que novas ações com o mesmo objeto sejam ajuizadas, evitando a reabertura de discussões já encerradas.
Qual o recurso cabível após o trânsito em julgado?
Após o trânsito em julgado, não há mais recursos cabíveis no processo, pois a decisão já se tornou definitiva. No entanto, existem medidas excepcionais que podem ser adotadas para tentar desconstituir uma decisão transitada em julgado. A principal delas é a ação rescisória, prevista no artigo 966 do CPC.
Essa ação não é um recurso, mas sim um novo processo autônomo que busca anular uma sentença por vícios graves, como fraude, dolo, erro de fato ou violação manifesta à norma jurídica. Fora isso, não é possível recorrer, o que reforça a importância de atuar estrategicamente durante as fases recursais do processo.
Qual é o próximo passo depois do trânsito em julgado?
Depois do trânsito em julgado, o processo entra na fase de cumprimento de sentença ou execução, dependendo da natureza da decisão.
No caso de uma sentença condenatória, inicia-se o procedimento para garantir que o vencedor receba o que lhe é devido. Isso pode envolver intimações, bloqueio de valores via BacenJud, penhora de bens ou outras medidas coercitivas.
Se a decisão for declaratória ou constitutiva, o trânsito em julgado gera efeitos jurídicos imediatos, sem necessidade de execução, como ocorre em ações que reconhecem uma paternidade ou anulam um contrato.
Em todo caso, o advogado deve acompanhar atentamente essa fase, pois é nela que os resultados concretos do processo se materializam.
Como saber se o processo foi transitado em julgado?
Para saber se um processo transitou em julgado, é possível consultar o andamento processual no site do tribunal responsável pela ação. Em geral, o sistema indica expressamente a data do trânsito, constando no campo “situação do processo” ou “movimentações”.
Além disso, o advogado pode verificar se há certidão de trânsito em julgado nos autos, documento que confirma oficialmente o encerramento da fase recursal. Essa certidão é emitida pela secretaria do juízo quando decorre o prazo de recurso sem manifestação das partes. A partir desse momento, a sentença torna-se imutável e o processo pode seguir para a execução ou ser arquivado, conforme o caso.
É preciso aguardar o trânsito em julgado da sentença?
Sim. Na maioria dos casos, é necessário aguardar o trânsito em julgado da sentença para que seus efeitos plenos sejam produzidos. Isso evita que atos executórios sejam praticados enquanto ainda há possibilidade de recurso, garantindo o direito de defesa das partes.
Contudo, o CPC prevê hipóteses em que é possível iniciar a execução provisória da sentença, mesmo antes do trânsito em julgado, desde que a decisão seja favorável e não tenha efeito suspensivo.
Essa prática é comum em ações cíveis e trabalhistas, em que a parte vencedora busca antecipar o cumprimento da decisão, assumindo os riscos caso ela venha a ser reformada posteriormente.
Qual é o prazo para o trânsito em julgado?
O prazo para o trânsito em julgado depende da existência ou não de recursos cabíveis. Quando nenhuma das partes interpõe recurso dentro do prazo legal, considera-se que o trânsito em julgado ocorre automaticamente no dia seguinte ao término do prazo recursal.
Nos processos cíveis, o prazo para apelação é de 15 dias úteis a partir da intimação da sentença, conforme o artigo 1.003, §5º, do CPC. Já nos processos penais, os prazos são contados em dias corridos, e variam conforme o tipo de recurso. O mesmo raciocínio se aplica às demais esferas, observando sempre as regras específicas de cada órgão ou rito processual.
Advocacia Pública
No caso da Advocacia Pública, o prazo para recorrer é em dobro, segundo o artigo 183 do CPC. Isso significa que, ao invés de 15 dias úteis, a contagem é de 30 dias úteis. Essa prerrogativa é concedida devido à estrutura e ao volume de processos sob responsabilidade de órgãos públicos, como a União, os estados e os municípios.
Assim, o trânsito em julgado em ações envolvendo a Fazenda Pública só ocorre após o término desse prazo especial, caso não haja interposição de recurso. É importante, portanto, observar esse detalhe para evitar o cumprimento prematuro de uma sentença.
Ministério Público
Para o Ministério Público (MP), o prazo também é contado em dobro, conforme o artigo 180 do CPC. Essa prerrogativa justifica-se pela natureza das funções do órgão, que atua na defesa da ordem jurídica e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
O MP pode recorrer mesmo quando não é parte direta do processo, especialmente em causas que envolvem interesse público. Assim, o trânsito em julgado somente ocorrerá após o término desse prazo ampliado, caso não haja manifestação do órgão.
Defensoria Pública
A Defensoria Pública também possui prazo em dobro para recorrer, de acordo com o artigo 186 do CPC. Essa prerrogativa é garantida em razão da sobrecarga de processos e da necessidade de assegurar ampla defesa às pessoas hipossuficientes.
Dessa forma, o trânsito em julgado em ações patrocinadas pela Defensoria deve considerar essa contagem diferenciada. Caso o defensor não apresente recurso dentro do prazo dobrado, a sentença torna-se definitiva, e o processo segue para as etapas subsequentes.
Juizado Especial Cível
Nos Juizados Especiais Cíveis (JECs), os prazos são mais curtos e seguem regras específicas, conforme a Lei nº 9.099/95. O prazo para interposição de recurso inominado é de 10 dias corridos, contados da ciência da sentença.
Assim, se nenhuma das partes recorrer dentro desse prazo, a decisão transita em julgado automaticamente. Essa celeridade é uma característica essencial dos JECs, que buscam oferecer uma justiça mais rápida e acessível para causas de menor complexidade.
Como uma sentença transitada em julgado pode ser revertida?
Embora o trânsito em julgado torne a decisão definitiva, existem hipóteses excepcionais em que ela pode ser revertida. A via adequada para isso é a ação rescisória, prevista nos artigos 966 a 975 do CPC. Esse tipo de ação busca desconstituir uma sentença transitada em julgado quando há vícios graves que comprometem sua validade.
As situações em que é possível propor uma ação rescisória incluem:
- Quando a decisão resultar de dolo, coação ou fraude processual;
- Quando se basear em prova falsa;
- Quando violar expressamente norma jurídica;
- Quando houver erro de fato verificável nos autos;
- Quando a decisão se fundar em premissa inexistente;
- Quando uma das partes não tiver sido devidamente citada;
- Quando surgir documento novo que comprove fato essencial à causa.
A ação rescisória deve ser ajuizada no prazo de dois anos contados do trânsito em julgado da decisão que se pretende rescindir. Importante lembrar que essa medida tem caráter excepcional e exige demonstração clara do vício alegado, sob pena de indeferimento.
Conclusão
O trânsito em julgado representa o encerramento definitivo de um processo judicial, garantindo segurança e estabilidade às decisões proferidas. Ele marca o momento em que o poder jurisdicional se exaure e a sentença passa a ser imutável, permitindo o início da fase de execução ou o arquivamento da ação.
Compreender seus efeitos, prazos e exceções é fundamental para a atuação estratégica no Direito, evitando perdas de prazo e garantindo o cumprimento adequado das decisões.
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