bases legais para inteligencia artificial
Tecnologia e Advocacia digital

Quais as bases legais para Inteligência Artificial e qual o futuro

A regulamentação da inteligência artificial tem sido um tema de destaque no mundo. Embora a tecnologia traga inúmeros benefícios, seu uso adequado depende da existência de leis que garantam a segurança, a transparência e a proteção dos direitos individuais.

Além de fomentar inovações, ela tem a possibilidade de transformar setores inteiros, como saúde, educação e finanças. 

No entanto, sem diretrizes claras, pode comprometer a integridade dos dados individuais e criar desigualdades ao privilegiar grandes corporações com maior acesso a informações e recursos digitais, deixando pequenas empresas e governos locais em desvantagem.

Além disso, essa normatização também precisa estar alinhada com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e outras leis internacionais que buscam defender a privacidade e as prerrogativas dos cidadãos. 

Assim, a discussão sobre as bases legais vai além de questões técnicas: trata-se de equilibrar progresso e ética, certificando que a IA sirva ao bem comum. Acompanhe no texto o que o marco legal da inteligência artificial prevê. 

O que é o marco legal da inteligência artificial no Brasil? 

O marco legal da inteligência artificial no Brasil é um conjunto de normas e diretrizes proposto para regulamentar o seu avanço e aplicação.

Essas políticas visam criar uma estrutura jurídica que proteja os direitos básicos dos cidadãos e promovendo o emprego responsável dessa ferramenta

Inspirado em legislações internacionais e em debates sobre a governança da IA, o marco busca fornecer um caminho claro para corporações, governos e a comunidade adotarem a inovação de maneira confiável e eficiente.

Isso porque, com a sua expansão, surgem preocupações sobre seus possíveis impactos negativos, como violações de intimidade, discriminação e o uso indevido de informações confidenciais. 

Além disso, há temores sobre a substituição de empregos humanos e o aumento da desigualdade, caso a tecnologia seja dominada por poucas corporações.

A legislação vem justamente para endereçar essas questões, fornecendo bases legais que oriente tanto o campo social quanto o privado. Dessa forma, ele cria condições para que o recurso seja um meio de desenvolvimento socioeconômico, ao mesmo tempo em que evita abusos e limita riscos.

O processo de construção de bases legais envolve a participação de diversos atores: legisladores, organizações da sociedade civil, representantes da academia e empresarial. 

Atualmente, diversos projetos de lei estão em discussão, gerando debates e consultas públicas para refinar o texto e garantir que ele atenda às demandas específicas do Brasil. O objetivo é adotar um modelo normativo que seja flexível o suficiente para acompanhar os avanços, mas firme em seus compromissos com a preservação de direitos e a promoção da inclusão.

No entanto, há desafios a serem superados, como a falta de infraestrutura digital adequada em algumas regiões, a escassez de profissionais qualificados e a necessidade de integração entre leis já existentes, como a LGPD.

O que prevê o marco legal da inteligência artificial?  

O marco legal da inteligência artificial pretende certificar que a tecnologia seja utilizada de maneira ética, responsável e inclusiva, defendendo os direitos dos cidadãos e promovendo o bem-estar social. 

Ao mesmo tempo, a legislação incentiva o progresso, criando um ecossistema favorável para a expansão de soluções digitais que possam transformar setores inteiros e contribuir para o crescimento sustentável. Alguns pontos principais dessa proposta:

Respeito aos limites sociais e a proteção ao patrimônio público e privado 

O manuseio da computação cognitiva deve estar em sintonia com os valores sociais e legais do Brasil, validando que as inovações respeitem prerrogativas individuais e coletivas. Isso significa que ela precisa ser projetada e utilizada para preservar a dignidade humana, evitando interferências em direitos fundamentais, como privacidade e liberdade. 

Além disso, a proteção ao patrimônio público e particular deve impedir que tecnologias avancem sem controle e comprometam a segurança da sociedade, seja por falhas em sistemas de infraestrutura crítica, como energia e transporte, ou por ameaças digitais a informações sigilosas e dados pessoais.

Estabelecimento de padrões éticos e morais na utilização da IA

Uma das maiores preocupações com o avanço do sistema inteligente é oferecer que algoritmos sejam imparciais e transparentes. A legislação objetiva assegurar que as decisões automatizadas, como concessão de crédito ou aprovação de vagas de emprego, sejam justas e livres de preconceitos. 

Por isso, os padrões éticos exigem que as organizações expliquem como os algoritmos funcionam e quais registros utilizam, reduzindo a “caixa-preta” algorítmica que pode prejudicar indivíduos ou grupos específicos. A ideia é que a ferramenta sirva para beneficiar a comunidade, e não perpetuar discriminações ou desigualdades, seja por etnia, gênero, idade ou qualquer outra característica.

Promoção do desenvolvimento sustentável e inclusivo na área de inovação e tecnologia

Além de fomentar a inovação, a estrutura jurídica coloca um foco importante no desenvolvimento sustentável. Ou seja, a inteligência artificial deve ser utilizada para reduzir impactos ambientais, como otimizar o consumo de energia em cidades inteligentes ou melhorar processos produtivos que minimizem resíduos. 

A inclusão social também é uma prioridade: a tecnologia não pode ser limitada apenas aos grandes centros urbanos ou empresas de grande porte. Ela deve democratizar o acesso e proporcionar oportunidades para todos, promovendo a igualdade digital de comunidades vulneráveis e permitindo que o Brasil avance de forma justa e equilibrada.

Estímulo ao investimento em pesquisa e desenvolvimento da IA

Para que o Brasil possa competir globalmente no campo da computação cognitiva, o marco legal prevê incentivos ao investimento em pesquisa e inovação. Desse modo, inclui vantagens fiscais para corporações que criam novas propostas digitais e apoio governamental a universidades e centros de pesquisa

O objetivo é criar um ecossistema, onde startups e empresas de tecnologia possam prosperar, gerando trabalhos e exportando soluções para outros mercados. Sem investimentos consistentes em estudos, o país corre o risco de ficar para trás, dependendo de recursos estrangeiros e perdendo autonomia.

Incentivo e cooperação internacional em pesquisa e desenvolvimento da IA

A cooperação internacional colabora para que o Brasil se beneficie dos avanços realizados em outras partes do mundo. A normatização incentiva parcerias com universidades, centro científico e empreendimentos estrangeiros, permitindo a troca de conhecimento e o desenvolvimento de projetos conjuntos. 

Assim, acelera a criação de iniciativas e coloca o país em um ciclo de progresso, alinhando o país às melhores práticas universais. Além disso, a cooperação internacional fortalece a posição do país em fóruns internacionais de coordenação de IA, certificando que suas prioridades e interesses sejam considerados na formulação de políticas globais.

Promoção da cooperação entre entes públicos e privados e centros de pesquisa

A colaboração entre setores coletivo, privado e acadêmico ajuda a evoluir ferramentas de inteligência artificial que atendam às necessidades da sociedade de forma estratégica. A regulamentação incentiva parcerias que combinem recursos, conhecimentos e experiências dessas diferentes áreas, impulsionando inovações aplicadas em áreas como saúde pública, educação e segurança. 

Ao unir esforços, empresas podem implementar propostas mais consistentes, enquanto centros de pesquisa buscam novas metodologias e governos garantem que as tecnologias respeitem as normas e atendam às demandas sociais. 

Esse tipo de cooperação pode ter resultados transformadores, como algoritmos para diagnóstico médico mais rápido ou sistemas inteligentes para monitorar o trânsito em grandes cidades.

Desenvolvimento de mecanismos de fomento à inovação e ao empreendedorismo digital

O marco legal propõe a criação de incentivos fiscais e linhas de financiamento para fomentar o surgimento de startups e projetos empreendedores na área digital. Apoiar iniciativas inovadoras é fundamental para que o Brasil possa acompanhar as tendências globais e gerar um ecossistema competitivo de inteligência artificial

Além disso, o acesso facilitado a crédito e programas de aceleração ajudam a transformar ideias promissoras em negócios viáveis, contribuindo para a geração de empregos e crescimento econômico. A presença de startups de IA fortalece o mercado nacional e atrai investimentos estrangeiros, impulsionando o país para o desenvolvimento.

Capacitação de profissionais da área de tecnologia em IA

Para o progresso adequado da computação cognitiva é importante o investimento na formação de profissionais qualificados. A legislação reforça a importância de programas de educação e capacitação técnica que preparem a força de trabalho para lidar com os desafios dessa ferramenta. 

Isso inclui desde cursos especializados e programas de pós-graduação até treinamentos corporativos que atualizem profissionais em novas metodologias. Uma mão de obra qualificada colabora para que o Brasil não apenas consuma tecnologia, mas também produza inovações próprias, fortalecendo sua soberania digital e aumentando a competitividade.

Estímulo às atividades de pesquisa e inovação nas instituições de ciência, tecnologia e inovação

A estrutura jurídica busca fortalecer as instituições de ciência por meio de incentivos financeiros e suporte institucional para que continuem desenvolvendo pesquisas de ponta. A integração desses estudos com a indústria corporativa e o governo pode acelerar a criação de soluções, como assistentes virtuais para serviços estatais ou sistemas de monitoramento ambiental baseados em inteligência artificial. 

O estímulo ao trabalho científico também permite que o Brasil acompanhe as tendências mundiais e contribua ativamente para a evolução da tecnologia ao nível internacional.

Melhoria da qualidade e da eficiência dos serviços oferecidos à população

O marco legal incentiva o uso de IA para simplificar processos burocráticos, como a emissão de documentos ou o agendamento de consultas médicas, além de otimizar áreas como segurança social e transporte. 

Sistemas inteligentes podem, por exemplo, prever demandas por serviços de saúde ou melhorar a gestão de tráfego em cidades congestionadas. Dessa forma, ela se torna um recurso capaz de melhorar a qualidade de vida da população, reforçando que os avanços se traduzam em benefícios reais e tangíveis para a sociedade.

A LGPD se aplica à inteligência artificial?

Sim, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais se aplica diretamente a utilização da inteligência artificial no Brasil. A IA é alimentada por grandes quantidade de registros para operar de forma eficiente e personalizada, e, em muitos casos, essas informações são pessoais ou sensíveis. 

Portanto, o seu uso deve respeitar as diretrizes da LGPD, garantindo que direitos essenciais à privacidade e à proteção de dados sejam preservados. Alguns pontos convergentes, são:

  • Consentimento informado: usuários devem ser claramente informados sobre como suas informações serão usados por algoritmos de IA e quais impactos isso pode gerar;
  • Transparência e explicabilidade: as decisões geradas por algoritmos não podem ser uma “caixa-preta”; é necessário que as organizações expliquem de forma acessível como essas decisões foram tomadas e permitam questionamentos;
  • Segurança dos dados: a proteção de registros é essencial para evitar vazamentos e usos indevidos. A LGPD exige que as empresas utilizem medidas como criptografia, anonimização e controle de acesso para assegurar a integridade das informações;
  • Responsabilidade e governança: negócios que usam IA precisam implementar políticas internas claras para promover o emprego ético dos dados. Isso inclui nomear encarregados, auditar regularmente os algoritmos e corrigir possíveis discriminações ou erros.

Conclusão

A regulamentação da inteligência artificial no Brasil representa uma oportunidade única para moldar o futuro digital do país com responsabilidade e inovação. 

Ao estabelecer normas claras, o marco legal busca criar uma harmonia entre o progresso tecnológico e a proteção dos direitos fundamentais, certificando que a IA funcione como uma aliada no desenvolvimento econômico e comunitário.

No entanto, chegar a esse ponto é um desafio. Exige tomadas de decisão assertivas, especialmente diante de uma ferramenta que evolui rapidamente. Durante esse processo, mesmo que o marco jurídico completo ainda não esteja em vigor, organizações devem se atentar a outras legislações, como a LGPD, evitando problemas legais.

Em um esforço global para validar o uso adequado da computação cognitiva, em 30 de outubro de 2023, o G7 – grupo das maiores economias mundiais – apresentou um Código de Conduta para empresas de IA. Esse acordo estabelece 11 diretrizes essenciais, orientando todo seu processo desde o início. 

Os empreendimentos são incentivadas a identificar e mitigar riscos continuamente, além de reforçar transparência por meio de relatórios periódicos e ações rápidas para corrigir falhas e vulnerabilidades.

Esse movimento generalizado demonstra o compromisso em estimular uma coordenação eficaz, garantindo que o avanço do sistema inteligente seja confiável, ético e benéfico para todos. 

Assim, o Brasil, ao seguir essa mesma direção com sua legislação, tem a chance de se posicionar como um referente na governança digital, promovendo uma IA que equilibre avanço com dever social e que gere efeitos positivos para a população e o mercado.

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Autor
Foto - Eduardo Koetz
Eduardo Koetz

Eduardo Koetz é advogado, escritor, sócio e fundador da Koetz Advocacia e CEO da empresa de software jurídico Advbox.

Possui bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Possui tanto registros na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB (OAB/SC 42.934, OAB/RS 73.409, OAB/PR 72.951, OAB/SP 435.266, OAB/MG 204.531, OAB/MG 204.531), como na Ordem dos Advogados de Portugal - OA ( OA/Portugal 69.512L).
É pós-graduado em Direito do Trabalho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011- 2012) e em Direito Tributário pela Escola Superior da Magistratura Federal ESMAFE (2013 - 2014).

Atua como um dos principais gestores da Koetz Advocacia realizando a supervisão e liderança em todos os setores do escritório. Em 2021, Eduardo publicou o livro intitulado: Otimizado - O escritório como empresa escalável pela editora Viseu.

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